https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/05/01/parlamento-britanico-aprova-mocao-que-declara-emergencia-climatica-no-reino-unido.ghtml
A decisão, ainda que simbólica pois não implica por enquanto nenhuma medida concreta, surge na sequência dos protestos recentes das greves estudantis e, em particular, do movimento 'Extinction Rebellion' (XR) que tinha a declaração de emergência climática como uma das suas três principais reivindicações.
Esta declaração foi precedida por declarações similares dos governos locais da Escócia e do País de Gales (a 28 e 29 Abr, respectivamente):
https://www.bbc.com/news/uk-wales-politics-48093720
Os decisores políticos parecem estar a acordar finalmente para a maior crise existencial global. De facto, já anteriormente várias autarquias do Reino Unido, da Austrália, dos EUA e da Suiça, totalizando 507 concelhos a que correspondem cerca de 43 milhões de cidadãos (27 Abr), tinham feito declarações semelhantes, que foram compiladas por sites dedicados a este tema:
Estas tomadas de posição correspondem a compromissos de redução de emissões a zero (neutralidade carbónica) entre 2030 e 2050. No entanto, alguns dos movimentos de activismo climático põem em causa a seriedade daquelas metas sem que sejam avançadas medidas concretas para a sua implementação.
A opinião pública britânica é favorável à tomada de medidas de emergência segundo sondagem revelada ontem (30 Abr) pela secção britânica da Greenpeace, que publicou igualmente um plano de emergência climática com um conjunto de 11 medidas abrangentes para a descarbonização da economia:
https://www.greenpeace.org.uk/climatemanifesto/
https://www.theguardian.com/environment/2019/apr/30/two-thirds-of-britons-agree-planet-is-in-a-climate-emergency
O conjunto de medidas inclui o abandono dos combustíveis fósseis (CFs), a transição para fontes de energia renováveis, o reforço da rede eléctrica, a eliminação gradual dos transportes automóveis movidos a CFs e o incentivo ao uso de transportes públicos, a descarbonização das indústrias e do sistema agro-alimentar, a redução drástica do transporte aéreo e marítimo e o estímulo à criação de 'empregos verdes', entre outras.
Curiosamente (ou talvez não) tinha sido publicado no mesmo dia (30 Abr) no jornal The Guardian um apelo à adopção dum 'Green New Deal' pelo RU subscrito por parlamentares representantes dos três principais partidos britânicos :
https://www.theguardian.com/commentisfree/2019/apr/30/green-new-deal-climate-change-social-transformation
Segundo o texto, o apelo surge como resposta aos protestos dos cidadãos e aos relatórios científicos (IPCC), e propõe a adopção de um plano ambicioso de transição energética e de criação de 'empregos verdes', na linha de propostas semelhantes oriundas dos sectores mais progressistas do partido democrata norte-americano e do plano delineado pela Greenpeace.
No entanto, é notória em todas estas propostas a ausência de medidas mais radicais e sistémicas que apontem para mudanças profundas no sistema sócio-económico apoiado no modelo capitalista, mercantil e tecnoindustrial, como aquelas que são preconizadas pelos defensores do decrescimento (ver meus posts anteriores: aqui e aqui).
Parece que o discurso político está claramente a mudar de tom mas o grande desafio que temos pela frente é o de transformar declarações de intenções ou medidas de mero 'greenwashing' em acções verdadeiramente transformadoras, radicais e sustentadas no tempo.
(graffiti atribuído a Banksy e que surgiu em Londres após os protestos do movimento XR)
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