domingo, 26 de maio de 2019

Revista Flauta de Luz nº6 (Maio 2019)

Foi publicado este mês um novo número (nº6) da revista 'Flauta de Luz', que foi lançado durante o colóquio 'As Linhas da Terra' que teve lugar na Fac. Letras da Univ. Lisboa na semana passada. Para além do cuidado gráfico e estético notáveis, atributos comuns aos números anteriores, reúne textos de grande qualidade, profundidade e diversidade. A ousada linha editorial segue também as orientações dos números anteriores - como explica o seu editor, Júlio Henriques: "por um lado, a crítica ao desenvolvimento tecnológico demencial e às devastações ecológicas e antropológicas que dele decorrem; por outro, a resistência inquebrantável dos povos indígenas aos ditames da cultura dominante, em defesa do planeta e de uma visão do ser humano como parte intrínseca da natureza." Este número inclui ainda uma secção dedicada ao (geo)poeta-ensaísta Kenneth White (de origem escocesa, mas de alma atlântica errante) que foi o convidado do colóquio 'As Linhas da Terra'.
Para além da citação de Thoreau que surge na página 'web' da editora Antígona (distribuidora da revista), o mote deste número é dado também por duas outras citações, uma do antropólogo brasileiro E. Viveiros de Castro ("A minha aposta é que vamos ser nós a desaparecer primeiro. Os índios sabem fazer muito com pouco. Nós sabemos pouco com muito.") e a outra do professor de ciência política norte-americano Langdon Winner: "Todo a gente é forçada a depender e ter fé [nos 'especialistas'] em questões sobre as quais tem pouca informação ou compreensão." (excerto)
É possível consultar o índice dos artigos e poemas deste nº6 na página da Antígona citada anteriormente.
Este vosso Respigador voltou a contribuir para esta preciosidade (e ousadia) editorial com um texto (intitulado 'O asteróide somos nós') sobre uma das componentes da catástrofe ambiental em curso - a sexta extinção em massa - a partir do pensamento de autores como Elisabeth Kolbert, Richard Leakey, Ashley Dawson e Frédéric Neyrat. Seguem dois excertos do texto (cujo título foi respigado de Kolbert e Neyrat):
"Proponho-me aqui descrever e comentar algumas reflexões e reacções que têm surgido em resposta a um dos principais sintomas da crise ambiental global – a perda dramática e irreversível de biodiversidade, cuja gravidade é evidenciada pela designação deste fenómeno como «A Sexta Extinção» (em massa). Este processo é aliás um dos componentes do Antropoceno, designação proposta para a era actual com o intuito de destacar o papel dos seres humanos como nova força geológica e como principais agentes da crise ambiental global. Embora se trate na verdade de um desafio multidimensional, a crise do Antropoceno é frequentemente reduzida à sua componente climática. Não é pois de estranhar que o tópico da perda de biodiversidade não tenha a cobertura mediática e a projecção global que tem merecido o da crise climática, pese embora as suas repercussões igualmente profundas, assim como a sua interligação e génese comum."
"(...) a sexta extinção parece ter pouco de acidental ou de arbitrário, na medida em que o estado actual do conhecimento nos permite associá-la de forma inequívoca às nossas acções e que o seu grau de destrutividade resulta não só dos modelos tecnológicos e económicos adoptados pelas sociedades humanas, mas também das suas práticas culturais e visões do mundo."
O texto acabou por ganhar relevância inesperada com a publicação recente do relatório do painel das Nações Unidas para a biodiversidade e ecossistemas (IPBES), sobre o qual escrevi neste blog.

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