quinta-feira, 30 de maio de 2019

O 'percurso iniciático' da elite do poder

Os trajectos dos ‘capatazes’ ao serviço do poder oligárquico (e plutocrático) dos ‘donos disto tudo’ são tão óbvios que até chateia. Os casos de algumas figuras conhecidas da política nacional são bons exemplos disso. Tivemos o ‘peixe graúdo’ Durão Barroso que abandonou o lugar de primeiro-ministro para assumir a liderança da Comissão Europeia e que, depois de executar satisfatoriamente o seu trabalhinho (o que lhe garantiu uma reforma generosa da UE), foi premiado com mais um bom emprego na Goldman Sachs, situação que causou algum mal-estar entre os dirigentes europeus, com acusações de conflito de interesses e de conduta antiética:
Tivemos também o implacável Vítor Gaspar que, depois de implementar as brutais medidas de austeridade requeridas pela ‘troika’, se demitiu do governo Passos Coelho (PC) para passar a integrar os quadros superiores do FMI e continuar a aplicar a sua sagacidade financeira (que foi criticada pelo próprio FMI), mas preconizando receitas muito diferentes daquelas que usou enquanto ministro das finanças:
Depois tivemos a sucessora de Gaspar, Maria Luís Albuquerque, que após a queda do governo PC, tinha à sua espera um lugarzinho numa grande empresa financeira britânica (Arrow Global), o que voltou a causar indignação pelas situações de conflito de interesses que gerou:
Entretanto, o ex-governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, tinha sido promovido a vice-presidente do BCE, lugar que ocupou durante oito anos e que lhe garantiu um bom complemento de reforma, tendo regressado a Portugal em 2018 para se tornar ‘blogger intelectual’ (sic) de assuntos económicos:
E temos finalmente o actual presidente da câmara de Lisboa, Fernando Medina, que, após aplicar as receitas neoliberais à gestão da cidade, foi agora convidado pelo veterano Durão para se iniciar num dos clubes exclusivos das elites do poder, o grupo Bilderberg, que se reúne na Suiça este fim-de-semana:
Não sou partidário de teorias da conspiração, mas é um facto que estas reuniões à porta fechada sobre assuntos de relevância geopolítica global que juntam maioritariamente membros seleccionados das elites empresariais, financeiras e políticas, geram natural desconfiança na generalidade das pessoas por não sentirem que ali se definam estratégias para o bem comum. Basta consultar as listas de personalidades da elite política e empresarial nacional que passaram por aquelas reuniões ao longo das últimas décadas para perceber que há um aparente 'percurso iniciático' que promove uma fidelização a uma determinada ideologia política e económica:
Como se afirma nesta última notícia: “(…) Bilderberg é sempre visto como um palco de lançamento para uma carreira promissora em Portugal. As figuras escolhidas são, normalmente, pessoas que tenham influência ou possam vir a tê-la, seja como chefes de Governo ou líderes da oposição. Tirando Passos Coelho, que apesar de convidado não chegou a participar, os últimos primeiros-ministros portugueses passaram todos por Bilderberg: António Guterres, Durão Barroso, Pedro Santana Lopes, José Sócrates e António Costa. Em 2013, António José Seguro e Paulo Portas estiveram juntos. Marcelo Rebelo de Sousa, Manuela Ferreira Leite, Vítor Constâncio, Teixeira dos Santos ou Ricardo Salgado foram outros dos nomes que marcaram presença em Bilderberg.” Augura-se portanto um futuro político auspicioso para o actual edil lisboeta.

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