Os trajectos dos ‘capatazes’ ao serviço do poder oligárquico
(e plutocrático) dos ‘donos disto tudo’ são tão óbvios que até chateia. Os
casos de algumas figuras conhecidas da política nacional são bons exemplos
disso. Tivemos o ‘peixe graúdo’ Durão Barroso que abandonou o lugar de primeiro-ministro
para assumir a liderança da Comissão Europeia e que, depois de executar
satisfatoriamente o seu trabalhinho (o que lhe garantiu uma reforma generosa da
UE), foi premiado com mais um bom emprego na Goldman Sachs, situação que causou
algum mal-estar entre os dirigentes europeus, com acusações de conflito de
interesses e de conduta antiética:
Tivemos também o implacável Vítor Gaspar que, depois de
implementar as brutais medidas de austeridade requeridas pela ‘troika’, se
demitiu do governo Passos Coelho (PC) para passar a integrar os quadros
superiores do FMI e continuar a aplicar a sua sagacidade financeira (que foi
criticada pelo próprio FMI), mas preconizando receitas muito diferentes daquelas
que usou enquanto ministro das finanças:
Depois tivemos a sucessora de Gaspar, Maria Luís
Albuquerque, que após a queda do governo PC, tinha à sua espera um lugarzinho
numa grande empresa financeira britânica (Arrow Global), o que voltou a causar
indignação pelas situações de conflito de interesses que gerou:
Entretanto, o ex-governador do Banco de Portugal, Vítor
Constâncio, tinha sido promovido a vice-presidente do BCE, lugar que ocupou
durante oito anos e que lhe garantiu um bom complemento de reforma, tendo
regressado a Portugal em 2018 para se tornar ‘blogger intelectual’ (sic) de
assuntos económicos:
E temos finalmente o actual presidente da câmara de Lisboa,
Fernando Medina, que, após aplicar as receitas neoliberais à gestão da cidade, foi
agora convidado pelo veterano Durão para se iniciar num dos clubes exclusivos
das elites do poder, o grupo Bilderberg, que se reúne na Suiça este
fim-de-semana:
Não sou partidário de teorias da conspiração, mas é um facto
que estas reuniões à porta fechada sobre assuntos de relevância geopolítica
global que juntam maioritariamente membros seleccionados das elites empresariais, financeiras
e políticas, geram natural desconfiança na generalidade das pessoas por não
sentirem que ali se definam estratégias para o bem comum. Basta consultar as
listas de personalidades da elite política e empresarial nacional que passaram
por aquelas reuniões ao longo das últimas décadas para perceber que há um
aparente 'percurso iniciático' que promove uma fidelização a uma determinada
ideologia política e económica:
Como se afirma nesta última notícia: “(…) Bilderberg é sempre visto como
um palco de lançamento para uma carreira promissora em Portugal. As figuras
escolhidas são, normalmente, pessoas que tenham influência ou possam vir a
tê-la, seja como chefes de Governo ou líderes da oposição. Tirando Passos
Coelho, que apesar de convidado não chegou a participar, os últimos
primeiros-ministros portugueses passaram todos por Bilderberg: António
Guterres, Durão Barroso, Pedro Santana Lopes, José Sócrates e António Costa. Em
2013, António José Seguro e Paulo Portas estiveram juntos. Marcelo Rebelo de
Sousa, Manuela Ferreira Leite, Vítor Constâncio, Teixeira dos Santos ou Ricardo
Salgado foram outros dos nomes que marcaram presença em Bilderberg.” Augura-se
portanto um futuro político auspicioso para o actual edil lisboeta.
Sem comentários:
Enviar um comentário