Tal como no ano passado por esta mesma altura, o espaço mediático e publicitário nacional foi invadido pelas campanhas que apregoam descontos para estimular o consumo pré-natalício (ajudando os retalhistas a escoar os seus stocks e com o apoio dos bancos que acenam com créditos especiais ao consumo), com designações ‘made in USA’ – como a Black Friday ou a Cyber Monday (ver p.ex. aqui ou aqui). A ‘Black Friday’ (BF) é uma invenção relativamente recente (anos 1970) do comércio retalhista norte-americano para promover as vendas que antecedem o Natal (após o feriado do ‘Thanksgiving’), mas foi-se tornando mais popular e poderosa com o apoio de campanhas de marketing agressivas que a internacionalizaram a partir dos anos 2000 (ver p.ex. aqui ou aqui). Este mesmo fenómeno é tema de um post de um blogger brasileiro (Luciano Fernandes) onde divulga um excelente vídeo muito recente do projecto ‘Our Changing Climate’ que faz uma análise crítica da BF e dos seus impactos ambientais e sociais nefastos - ‘The problem with BF’: https://youtu.be/p3Z8TodvNuM (9 min; é possível activar tradução simultânea em PT). O vídeo critica a mentalidade mercantil e consumista que é aproveitada pelos gigantes do retalho para escoar excedentes ou produtos supérfluos, mas que contribui para a mudança climática e a degradação ambiental, ao mesmo tempo que promove a exploração dos trabalhadores do comércio retalhista e das plataformas de venda ‘online’. Mostra também claramente que a BF é uma estratégia para aumentar os lucros das grandes empresas, como a Amazon, e para alimentar uma economia dependente do crescimento e consumo permanentes. Para além da denúncia, apresenta também propostas de abstinência individual e de acção colectiva através da colaboração com movimentos sociais que pugnam pela justiça social e climática.
O apelo e
dependência do consumo também já chegaram ao continente asiático com um outro
fenómeno consumista recente (o ‘Singles’ Day’ chinês),
que tem lugar a 11 de Novembro e atingiu este ano novo recorde de vendas ‘online’,
tendo as receitas ultrapassado em 2018 os valores totais arrecadados pela BF e a ‘Cyber
Monday’ nos EUA (ver p.ex. aqui).
Por cá, os volumes de vendas não atingem aqueles valores, mas os publicitários
nacionais têm vindo a apregoar nos últimos anos a ‘Black Week’, uma invenção
mais recente para estender o ímpeto consumista por um período mais alargado (ver
p.ex. aqui
ou aqui).
Até a EDP introduziu este ano a ‘Green Friday’ para vender electrodomésticos
que, segundo a campanha, ‘promovem a eficiência energética’, revertendo uma
fracção da receita (1%) para a ‘Liga para a Protecção da Natureza’ (ver p.ex. aqui)!
Dan Perjovschi |
A denúncia do apelo ao consumismo compulsivo e da sua
gratificação ilusória é anterior à BF, mas foi intensificada por este e outros
fenómenos mais recentes, como enfatiza um artigo no ‘The Guardian’ que invoca o pensamento neo-marxista da ‘Escola de Frankfurt’
para desconstruir as mentiras apregoadas pelo marketing. Segundo o psicólogo Tim Kasser citado neste artigo:
“Valores materialistas exacerbados estão associados a uma diminuição
generalizada do bem-estar das pessoas, desde baixos níveis de satisfação e de felicidade,
à depressão e à ansiedade, a problemas físicos e a transtornos de
personalidade, como o narcisismo ou o comportamento antissocial.”
Sem comentários:
Enviar um comentário