Tornou-se quase um cliché falar da ‘sociedade do consumo’,
como se a sua normalização nos tivesse deixado conformados perante uma
realidade maior do que nós, da qual devemos usufruir ou à qual nos devemos adaptar.
As insistentes narrativas mediáticas e a omnipresença da publicidade e do marketing ajudaram a consumar a
aceitação social daquela criação da sociedade do crescimento e da (aparente)
abundância. O problema é que nos confrontamos agora com as terríveis
consequências sociais e ambientais do modelo económico insustentável que está
na base das actuais sociedades mercantis, materialistas, individualistas e
consumistas. Vem isto a propósito de um novo conceito de experiência consumista
- o ‘shopping resort’ - desenvolvido como ‘upgrade’ do símbolo mais marcante da
sociedade do consumo nos meios urbanos: o centro comercial. De facto, um dos
mega-centros comerciais dos subúrbios da cidade de Lisboa (Dolce Vita Tejo,
vendido sucessivamente a diversos fundos de investimento internacionais) sofreu
obras de remodelação, que envolveram uma mudança de conceito e de nome (Ubbo,
inspirado no nome fenício da cidade de Lisboa!), acompanhados de uma forte campanha
de marketing e diversas ‘notícias’
nos media:
Do nome do conceito (‘shopping resort’), ao lema (‘Unidos
pela diversão’) e às imagens que acompanham a campanha publicitária (algumas
com um visual quase religioso – ver imagem no final do post), tudo se conjuga para projectar as imagens do prazer e do
entretenimento que caracterizam as estratégias publicitárias de sedução, mas
que são aqui ligadas à oferta de serviços que não estavam habitualmente associados
às superfícies comerciais – como parques infantis temáticos ou a instalação de
um hospital privado com ligação ao centro comercial. O espaço mais emblemático
será uma praça central coberta - com o nome ‘The Hood’(!) - que reunirá espaços
para famílias e palcos para espectáculos. Segundo as palavras de um dos artigos
citados, o Ubbo pretende ser “um pólo regional de comércio, entretenimento e serviços
(…) que reúne emoções e experiências e que responde às novas exigências dos
consumidores, juntando o lazer, a cultura e atividades ao ar livre [?!] à
experiência de compra.” Trata-se de confinar num mesmo espaço uma variedade de
serviços prontos a consumir, limitando assim ainda mais aos
cidadãos-consumidores (em particular a classe média-baixa periférica que foi
afastada ou não tem lugar nas zonas gentrificadas do centro da cidade) o
contacto com espaços públicos naturais e com o comércio local. Eis-nos perante a
experiência consumista e hedonista radical para as massas, que poderá reduzir a
sua vida cultural e política a mínimos históricos. Mais preocupante é a
quantidade e diversidade de oferta de actividades para crianças que são assim
aprisionadas na máquina consumista e em ambientes artificiais desde a mais
tenra idade, com o conluio ou a conivência dos adultos.
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