1ª parte: O êxito eleitoral do PAN e a demagogia dos
anti-ambientalistas radicais
Decidi recuperar um texto que publiquei o ano passado no
Google+ (entretanto desactivado) - ver 2ª parte deste post - a pretexto da recente vaga de comentários depreciativos sobre
o PAN, nomeadamente os que criticam as suas posições sobre práticas agrícolas e
médicas, acusando-o de ‘populismo pseudocientífico’. De facto, o aumento
significativo de votantes e a eleição de um eurodeputado pelo PAN nas recentes
eleições europeias parecem ter incomodado várias pessoas, principalmente da ala
conservadora nacional, atendendo às reacções mais ou menos virulentas e
demagógicas que têm surgido em jornais e blogues (muitos deles conotados com a
direita política):
Mesmo não concordando com todas as propostas e posições do
PAN, não posso deixar de condenar estas posturas deploráveis que dizem mais
sobre quem as faz, do que sobre o alvo dos seus ataques. Desde acusações de ‘animalismo’,
‘ecologismo oportunista’, ‘ultra-radicalismo’, ‘partido de urbano-depressivos
comedores de alface’ ou de ‘partido que essencialmente responde a preocupações
de urbanos que sonham com o restabelecimento de um paraíso perdido’, tudo tem
valido para quem preferia provavelmente ter visto os novos partidos de direita
eleger um eurodeputado. Felizmente, outros comentadores bem mais sensatos têm vindo
a desconstruir algumas das falácias arremessadas contra aquele partido (algumas
vindas também de comentadores da esquerda política):
Mas houve um artigo publicado pelo Observador (o megafone da
‘alt-right’ lusa) que foi particularmente belicoso e falacioso no seu
fundamentalismo pró-científico:
Nele os seus autores, que idolatram a tecnociência e as
inovações biotecnológicas, afirmam sobre o PAN: “Aproveitando o mar de
desinformação das redes sociais que cada vez mais ganha terreno, é o partido
das falácias naturalistas, sentimentos quimicofóbicos e anti-sistema, faturando
votos com esta nova geração de pessoas preocupadas com o seu bem-estar e com o
mundo em geral, mas que desconhecem ou repudiam a ciência que lhes mostra o
caminho.” O problema destas personagens sinistras é que têm alguma
capacidade argumentativa, mas a sua estratégia típica é atirar com uma barragem
de estatísticas, relatórios e artigos (alguns promovidos directa ou
indirectamente pelas corporações farmacêuticas ou do agro-negócio) para
corroborar a sua agenda escondida - porque não a assumem abertamente -, que é a
do grande poder económico e corporativo transnacional, apropriando-se até dos
argumentos usados frequentemente para criticar os partidos populistas de
direita. Em relação à sua defesa dos OGM e das agroindústrias, e a sua crítica
às práticas da agricultura biológica e da agroecologia, deixarei a argumentação
para a 2ª parte deste post.
Curiosamente, terminam o artigo assumindo a sua apologia de uma corrente ecofascista que se autodesigna por ‘ecomodernismo’: “Necessitamos
de Partidos Ecomodernistas e Promotores da Ciência. Partidos que consigam dar
resposta às ansiedades ambientais da população, com as soluções apropriadas,
promovendo as tecnologias que estão ao nosso dispor e combatendo a demonização
dos populistas relativamente a estas ferramentas. Partidos que se suportem na
ciência aquando das tomadas de decisões políticas na saúde, agropecuária, ambiente
ou energia.” Esta agenda é defendida por muita gente conotada com o conservadorismo
radical tecnófílo, que muitas vezes abraça também a outra agenda igualmente tenebrosa do ‘trans-humanismo’.
É preciso denunciar estes grupos por aquilo que efectivamente são: ecofascistas
e tecnofascistas que sonham com um futuro distópico em que a humanidade está
confinada a mega-cidades governadas por grandes corporações e controladas por
sofisticadas tecnologias. Felizmente, já vários autores têm desmontado e
denunciado as suas narrativas falaciosas – segue-se lista de artigos para
leituras adicionais.
Ecomodernismo:
Josh
Halpern - The Brave New World of Ecomodernism (2015): https://www.theguardian.com/environment/climate-consensus-97-per-cent/2015/oct/20/the-brave-new-world-of-ecomodernism
Derrick
Jensen – Critique of the Ecomodernist Manifesto (2015): http://www.derrickjensen.org/2015/11/the-ecomodernist-manifesto-is-a-program-for-genocide-and-ecocide/
George
Monbiot - Comment on ecomodernists (2015): https://www.theguardian.com/environment/georgemonbiot/2015/sep/24/meet-the-ecomodernists-ignorant-of-history-and-paradoxically-old-fashioned
A critique
from scholars of the Degrowth Movement (2015): http://www.resilience.org/stories/2015-05-06/a-degrowth-response-to-an-ecomodernist-manifesto
Jason
Hickel - Ecomodernism, ‘green growth’ and the fallacies of decoupling (Apr
2018): https://www.jasonhickel.org/blog/2018/4/4/the-magical-thinking-of-ecomodernism
Trans-humanismo:
The final
chapter in humanity’s perpetual quest to be kitted out in comforting
accessories, Andy Martin (2017): http://www.independent.co.uk/news/long_reads/transhumanism-third-thumb-add-ons-naked-ape-contact-lenses-a7909791.html
A
‘post-human’ future? Criticism of ‘transhumanist’ ideology (CGS, 2015):
Manifeste des
Chimpanzés du futur contre le transhumanisme, colectivo PMO (2015-2017): https://chimpanzesdufutur.wordpress.com/category/manifeste-des-chimpanzes-du-futur-contre-le-transhumanisme/
Arnaque
transhumaniste, arnaque productiviste - Sarah Dubernet (2016):
Una ética de la
humildad frente a la tecnociencia, E. Llopis (2016):
O humano do futuro dá medo, Sérgio C. Fanjul (2015):
http://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/14/ciencia/1444816379_988339.html
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