sexta-feira, 7 de junho de 2019

Contestar as agroindústrias e os OGM – 1: PAN-demónio!


1ª parte: O êxito eleitoral do PAN e a demagogia dos anti-ambientalistas radicais

Decidi recuperar um texto que publiquei o ano passado no Google+ (entretanto desactivado) - ver 2ª parte deste post - a pretexto da recente vaga de comentários depreciativos sobre o PAN, nomeadamente os que criticam as suas posições sobre práticas agrícolas e médicas, acusando-o de ‘populismo pseudocientífico’. De facto, o aumento significativo de votantes e a eleição de um eurodeputado pelo PAN nas recentes eleições europeias parecem ter incomodado várias pessoas, principalmente da ala conservadora nacional, atendendo às reacções mais ou menos virulentas e demagógicas que têm surgido em jornais e blogues (muitos deles conotados com a direita política):
Mesmo não concordando com todas as propostas e posições do PAN, não posso deixar de condenar estas posturas deploráveis que dizem mais sobre quem as faz, do que sobre o alvo dos seus ataques. Desde acusações de ‘animalismo’, ‘ecologismo oportunista’, ‘ultra-radicalismo’, ‘partido de urbano-depressivos comedores de alface’ ou de ‘partido que essencialmente responde a preocupações de urbanos que sonham com o restabelecimento de um paraíso perdido’, tudo tem valido para quem preferia provavelmente ter visto os novos partidos de direita eleger um eurodeputado. Felizmente, outros comentadores bem mais sensatos têm vindo a desconstruir algumas das falácias arremessadas contra aquele partido (algumas vindas também de comentadores da esquerda política):

Mas houve um artigo publicado pelo Observador (o megafone da ‘alt-right’ lusa) que foi particularmente belicoso e falacioso no seu fundamentalismo pró-científico:
Nele os seus autores, que idolatram a tecnociência e as inovações biotecnológicas, afirmam sobre o PAN: “Aproveitando o mar de desinformação das redes sociais que cada vez mais ganha terreno, é o partido das falácias naturalistas, sentimentos quimicofóbicos e anti-sistema, faturando votos com esta nova geração de pessoas preocupadas com o seu bem-estar e com o mundo em geral, mas que desconhecem ou repudiam a ciência que lhes mostra o caminho.” O problema destas personagens sinistras é que têm alguma capacidade argumentativa, mas a sua estratégia típica é atirar com uma barragem de estatísticas, relatórios e artigos (alguns promovidos directa ou indirectamente pelas corporações farmacêuticas ou do agro-negócio) para corroborar a sua agenda escondida - porque não a assumem abertamente -, que é a do grande poder económico e corporativo transnacional, apropriando-se até dos argumentos usados frequentemente para criticar os partidos populistas de direita. Em relação à sua defesa dos OGM e das agroindústrias, e a sua crítica às práticas da agricultura biológica e da agroecologia, deixarei a argumentação para a 2ª parte deste post.
Curiosamente, terminam o artigo assumindo a sua apologia de uma corrente ecofascista que se autodesigna por ‘ecomodernismo’: “Necessitamos de Partidos Ecomodernistas e Promotores da Ciência. Partidos que consigam dar resposta às ansiedades ambientais da população, com as soluções apropriadas, promovendo as tecnologias que estão ao nosso dispor e combatendo a demonização dos populistas relativamente a estas ferramentas. Partidos que se suportem na ciência aquando das tomadas de decisões políticas na saúde, agropecuária, ambiente ou energia.” Esta agenda é defendida por muita gente conotada com o conservadorismo radical tecnófílo, que muitas vezes abraça também a outra agenda igualmente tenebrosa do ‘trans-humanismo’. É preciso denunciar estes grupos por aquilo que efectivamente são: ecofascistas e tecnofascistas que sonham com um futuro distópico em que a humanidade está confinada a mega-cidades governadas por grandes corporações e controladas por sofisticadas tecnologias. Felizmente, já vários autores têm desmontado e denunciado as suas narrativas falaciosas – segue-se lista de artigos para leituras adicionais.

Ecomodernismo:
Derrick Jensen – Critique of the Ecomodernist Manifesto (2015): http://www.derrickjensen.org/2015/11/the-ecomodernist-manifesto-is-a-program-for-genocide-and-ecocide/
Jason Hickel - Ecomodernism, ‘green growth’ and the fallacies of decoupling (Apr 2018): https://www.jasonhickel.org/blog/2018/4/4/the-magical-thinking-of-ecomodernism


Trans-humanismo:
The final chapter in humanity’s perpetual quest to be kitted out in comforting accessories, Andy Martin (2017): http://www.independent.co.uk/news/long_reads/transhumanism-third-thumb-add-ons-naked-ape-contact-lenses-a7909791.html
A ‘post-human’ future? Criticism of ‘transhumanist’ ideology (CGS, 2015):
Manifeste des Chimpanzés du futur contre le transhumanisme, colectivo PMO (2015-2017): https://chimpanzesdufutur.wordpress.com/category/manifeste-des-chimpanzes-du-futur-contre-le-transhumanisme/
Arnaque transhumaniste, arnaque productiviste - Sarah Dubernet (2016):
Una ética de la humildad frente a la tecnociencia, E. Llopis (2016):
O humano do futuro dá medo, Sérgio C. Fanjul (2015):
http://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/14/ciencia/1444816379_988339.html

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