segunda-feira, 25 de abril de 2022

O poder da liberdade na Era da Pós-Verdade

"If liberty means anything at all, it means the right to tell people what they do not want to hear." George Orwell

“Resistance entails suffering. [...]. It is not about the pursuit of happiness. It is about the pursuit of freedom. Resistance accepts that even if we fail, there is an inner freedom that comes with defiance, and perhaps this is the only freedom, and true happiness, we will ever know. To resist evil is the highest achievement of human life. It is the supreme ACT of love.” Chris Hedges 


A liberdade não é uma condição que se conquista de um dia para outro numa revolução de cravos e que se pode tomar por garantida porque firmada colectivamente numa Constituição que estabelece os princípios de um tipo particular de democracia (representativa, parlamentar, partidária). Isto porque há variadas formas de a perverter e haverá sempre quem queira impor a sua versão de liberdade para fins que não incluem o bem comum e que servem apenas os interesses de minorias (ver link para vídeo de depoimento de José Saramago mais abaixo). Ou então apresentam-nos escolhas ilusórias como exercícios de liberdade. Como a suposta liberdade de escolha entre duas marcas de cerveja, duas cadeias de supermercados, duas operadoras de telecomunicações ou dois partidos políticos, mas cujas diferenças são na verdade meramente cosméticas - veja-se a recente 'escolha(?) horrível' na eleição presidencial em França entre o ultracapitalismo e o fascismo... Pior do que isso, as supostas escolhas que nos são oferecidas nem sequer cumprem, muitas vezes, os princípios firmados nas próprias constituições. Impedir que isso aconteça implica um trabalho quotidiano de atenção e de escrutínio, que devia ser um exercício colectivo de cidadania, mas se tem tornado cada vez mais difícil dada a atomização, a alienação e as solicitações permanentes a que são sujeitos os cidadãos. A situação tem sido agravada pela profusão das autênticas armas de destruição maciça em que se tornaram a publicidade e o marketing, os media dominantes e as chamadas 'redes sociais', que obscurecem ou impossibilitam a distinção entre realidade e ficção, entre genuino e simulacro, entre informação e propaganda, entre verdade e mentira, entre bem e mal. Para juntar o insulto à injúria, a própria liberdade de informação passou a ser coarctada por alegadas emergências securitárias, sanitárias ou humanitárias e policiada por poderes antidemocráticos. O escritor George Orwell (citado no início deste post) advertiu-nos desses perigos. Daí também a necessidade de resistir (e de desafiar ou desobedecer) a que aludi no post anterior e a que se refere o jornalista Chris Hedges na citação que abre este post.

Um exemplo internacional da relevância da liberdade e do acesso a informação para o exercício pleno do escrutínio democrático é o dos chamados 'denunciantes', como Julian Assange ou Edward Snowden, que são perseguidos pelos sistemas de justiça de países supostamente democráticos. Nestes tempos sombrios, revelar a verdade dá direito a mandatos de captura, mas aqueles que inventam mentiras para lançar guerras contra países terceiros (p.ex. George W. Bush ou Tony Blair) permanecem impunes! A extradição de Julian Assange para os EUA está, chocantemente, cada vez mais próxima, como relata neste artigo a jornalista Caitlin Johnstone onde denuncia também a hipocrisia norte-americana e europeia. Num outro artigo, Binoy Kampmark critica a desfaçatez dos magistrados britânicos que contribuíram para a viabilizar a sua extradição. E neste post, Luís Nobre Lucas agradece a Assange por nos ajudar a saber o que os governos ignóbeis deste mundo preferiam que não se soubesse.



A democracia representativa, tal como a conhecemos e praticamos, já não funciona como caminho para construir o bem comum, nem como garantidora da liberdade, porque foi sequestrada pelos diversos poderes instalados. Já o sabemos há muito tempo - como o afirmou claramente José Saramago em 2005 no Fórum Social Mundial em Porto Alegre (ver aqui ou aqui) - mas continuamos a protelar a mudança. E até temos alternativas (democracias participativa, directa e/ou deliberativa; sociocracia; outras formas de deliberação auto-organizadas), mas que precisamos de ter a coragem de experimentar mais convictamente.
Só a verdade (e a resistência aos poderes malévolos entranhados na sociedade, como afirma Chris Hedges) é revolucionária e só ela nos libertará!

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