A mensagem é repetida à exaustão, todos os dias e a toda a hora. A economia tem de crescer, os negócios têm de crescer, o comércio tem de crescer. Tudo tem de crescer. Se não, é a recessão, o desemprego, o colapso social. É uma narrativa tantas vezes repetida que muitos a aceitam como legítima e inquestionável. O crescimento é aliás o mantra da grande maioria dos políticos, governantes e... economistas. E se alguém põe tal 'verdade' em causa, é acusado de radical ou subversivo. Acontece que à luz dos conhecimentos científicos actuais sobre biologia e termodinâmica, o crescimento permanente da economia, que depende do consumo de matérias primas não renováveis e de energia, não é possível num planeta de recursos finitos e onde a conversão energética é um processo irreversível que conduz a perdas inevitáveis. Já escrevi anteriormente sobre o assunto (p.ex. aqui ou aqui) e recomendo esta curta animação que relembra que na natureza nenhum ser vivo cresce para sempre:
'The impossible hamster' (1 min)
O défice epistemológico dos economistas dominantes (adeptos da chamada economia neoclássica e em particular da sua corrente neoliberal) em relação à biologia e à ecologia é realçado pelo geneticista (e activista ambiental) canadiano David Suzuki nestes curtos vídeos onde defende que a economia convencional não é uma ciência mas sim uma ideologia (e uma forma de demência!) e onde mostra as consequências do crescimento exponencial:
'Conventinal economics is a form of brain damage' (2 min)
'On exponential growth' (3 min)
A insustentabilidade e irresponsabilidade deste paradigma económico têm vindo a ser denunciadas há vários anos, em particular pelos defensores do Decrescimento, sobre o qual tenho escrito por diversas vezes (p.ex. aqui ou aqui). Vem isto a propósito do lançamento recente do website da Rede para o Decrescimento, da qual sou membro, e onde é possível encontrar informação sobre este movimento internacional que contesta o modelo sócio-económico hegemónico baseado no crescimento permanente da produção e consumo de bens e serviços e na sua mercadorização globalizada. Vão sendo ali também colocadas informações sobre as actividades da Rede, bem como sobre eventos de interesse para a comunidade decrescentista. Convido pois a que façam visitas regulares.
Deixo para finalizar um excerto de um dos textos publicados naquele site:
"Só se compreende a proeminência e a urgência que damos à palavra «decrescimento» se se perceber que uma parte significativa das sociedades humanas percorre hoje um caminho de crescimento sem escalas ou regulações que permitam adequá-lo ao meio ambiente, sem decisão política sobre as transformações que ele transporta consigo e sem um sentido de justiça e dignidade humana que o modele. Transformado em único valor das sociedades modernas, o crescimento tornou-se uma dinâmica vazia de propósito, uma vez que tudo o mais passou a ser-lhe sacrificado. Esta dinâmica passou a justificar tudo e o seu contrário: mesmo no momento em que nos confrontamos com os limites do planeta, o crescimento é ainda convocado para justificar dinâmicas e tecnologias que supostamente nos permitiriam arrepiar caminho e sair da senda do crescimento infinito, que o consenso geral parece agora considerar suicida."
extremamente claro e real. obrigado. abraço
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