Teve início esta 2ªf (2 Dez)
e decorre até dia 13, em Madrid, mais uma cimeira sobre o clima promovida pela
ONU (COP25). Vários sites de media nacionais
e internacionais têm secções especiais dedicadas à cimeira – Público, Esquerda.net e The Guardian. Com
o lema ‘Time for Action’, a cimeira deste ano tem como missão promover a
concretização dos compromissos assumidos pelos países no Acordo de Paris (COP21
em 2015) para evitar o agravamento da crise climática, com ênfase nos mecanismos
do chamado ‘mercado global de carbono’ para ajudar os países a reduzir as suas emissões
e financiar medidas de redução nos países em desenvolvimento. No entanto, o
historial das cimeiras anteriores e as críticas aos mecanismos de compensação
de emissões (‘carbon offsetting’) não auguram um desfecho favorável para a
COP25, apesar dos apelos do presidente do IPCC ou do secretário-geral da ONU –
ver p.ex. aqui, aqui e aqui.
Em
paralelo com a COP25, decorrerá também em Madrid um encontro promovido por
dezenas de movimentos e organizações sociais e ambientais de diversos países (incluindo
Portugal) – a Cimeira Social pelo Clima – que será precedida por uma manifestação na tarde do dia 6 Dez.
Uma
outra cimeira alternativa que decorreu no estado brasileiro do Pará em Novembro
- Amazônia Centro do Mundo (ver vídeo-reportagem aqui) – juntou líderes
indígenas, activistas ambientais e académicos. Dessa cimeira resultou um manifesto que convida à defesa da vida e da floresta, recusando
a sua depredação e destruição, e termina propondo: “Queremos amazonizar o mundo
e amazonizar a nós mesmos. Liderados pelos povos da floresta, queremos refundar
o que chamamos de humano e voltar a imaginar um futuro onde possamos viver.”
A
procura de caminhos alternativos à falta de ambição das actuais políticas nacionais
e internacionais é claramente urgente. De facto, vários relatórios e artigos
recentes pintam cenários que vão do pouco animador ao catastrófico e mostram
que os esforços (exíguos) de mitigação dos últimos anos não têm sortido grande
efeito (o relatório da UNEP usa mesmo a expressão ‘falhanço colectivo’), tendo
as emissões globais de GEE continuado a subir (em particular, o CO2 proveniente
das centrais a carvão):
- Relatório da ONU – “UNEP Emissions Gap report”
(ver p.ex. aqui ou aqui)
- Relatório
da Organiz. Meteorológica Mundial - “WMO Greenhouse GasBulletin” (ver p.ex. aqui)
- Artigo da
revista Nature “Climate tipping points – too risky to bet against” (ver p.ex. aqui)
O
relatório da UNEP traça os diferentes cenários de evolução das emissões globais
de CO2 até 2030 que mostra bem a escala do desafio para evitar a subida da
temperatura média de 2ºC até 2100 – ver o gráfico no artigo do The Guardian ou
a animação no site interactivo da UNEP.
Destaco
também um outro relatório recente – “European Environment - State and Outlook 2020”
(SOER report) – da Agência Europeia do
Ambiente, que é produzido a cada cinco anos e faz uma análise da evolução, no
espaço europeu, de vários indicadores relacionados com o clima, a poluição, a biodiversidade
e o consumo de recursos naturais (ver p.ex. aqui). Mais uma
vez, o panorama é desanimador, com os diferentes governos europeus a não
cumprir as metas e os compromissos anunciados, já que apenas 6 dos 35
indicadores analisados mostraram uma evolução positiva. O relatório faz questão
de deixar o aviso de que a insistência na promoção do crescimento económico é incompatível
com a mitigação das crises ambiental e social, uma clara mensagem dirigida à
nova Comissão Europeia liderada por Ursula von der Leyen.
A
expressão emergência climática e ambiental parece ser adequada para descrever a
situação actual, tal como defendido em mais um aviso subscrito por cerca de
11,000 cientistas mundiais, sobre o qual escrevi em Setembro mas que só foi formalmente publicado em Novembro (ver aqui, aqui ou aqui).
Dado
que a resposta política a toda evidência científica sobre a dimensão e gravidade da
catástrofe ambiental (mudança climática, perda de biodiversidade, destruição de
ecossistemas, etc.) tem sido insuficiente ou ineficaz (ver p.ex. aqui ou aqui), serão
necessárias abordagens bem mais radicais se quisermos evitar uma catástrofe
ainda maior. É esse o propósito das mobilizações mundiais das greves estudantis
do movimento internacional Fridays For Future (ver p.ex. aqui) ou das
acções de desobediência civil do movimento Extinction Rebellion (ver p.ex. aqui). No
entanto, será preciso o envolvimento de muito mais cidadãos e grupos
profissionais neste processo, incluindo o dos próprios cientistas que deverão,
não só abandonar a sua habitual postura conservadora e cautelosa (ver p.ex. aqui), como
também envolver-se directamente nos movimentos sociais e políticos, tal como têm
sugerido alguns académicos – ver p.ex. aqui ou aqui. As cartas de apoio de cientistas aos movimentos sociais são importantes (ver aqui ou aqui) mas não chegam.A emergência que vivemos requer uma convergência dos movimentos sociais, ambientais e indígenas com diferentes grupos profissionais e iniciativas locais de resiliência e regeneração, para conseguir exercer a pressão necessária para a mudança social como propõem os activistas Kevin Zeese e Magaret Flowers neste post.
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