(Foto respigada do DN) |
(texto baseado em post publicado no G+ em Dez 2018)
Como em anos anteriores, decorreu em grandes superfícies do sector alimentar mais uma campanha do Banco Alimentar contra a Fome (BACF), apoiada activamente pelo presidente Marcelo, como noticiado em quase todos os media nacionais - ver aqui, aqui ou aqui.
Como em anos anteriores, decorreu em grandes superfícies do sector alimentar mais uma campanha do Banco Alimentar contra a Fome (BACF), apoiada activamente pelo presidente Marcelo, como noticiado em quase todos os media nacionais - ver aqui, aqui ou aqui.
Numa atitude que considero lamentável, o ‘presidente dos
afectos’ fez campanha pelo assistencialismo e pelas grandes superfícies; este ano
escolheu o Pingo Doce mas no ano anterior tinha sido o Continente, tendo então enfatizando
que dar é obrigação dos privilegiados (uma mensagem com um evidente cunho de moralismo religioso) - ver aqui ou aqui. Esta afirmação, num país com níveis de desigualdade e de
pobreza elevados e em que muito do rendimento gerado vai para a mão de poucos
ou para fora país, é ainda mais lamentável - ver p.ex. aqui, aqui ou aqui.
Por outro lado, fazer compras numa grande
superfície comercial contribui para beneficiar as grandes empresas de
distribuição que têm lucros chorudos à custa dos hipermercados e dos preços
baixos que pagam a funcionários e produtores, sendo pois co-responsáveis pelas
desigualdades - ver p.ex. aqui, aqui ou aqui.
E, ainda por cima, parte do rendimento gerado por aquelas
empresas é tributado fora do país - ver p.ex. aqui, aqui ou aqui.
Igualmente funesto é o facto destas campanhas permitirem
àquelas grandes cadeias libertarem-se de excedentes, como é referido neste post que aborda ainda a relação entre o
BACF e as IPSS ligadas à Igreja.
A existência de bancos alimentares pode ser justificável em
situações graves de carência alimentar e como medida provisória, devendo, no entanto, ser complementada
por medidas de médio-longo prazo, como políticas públicas sociais eficazes e mudanças
de paradigma económico. A caridade não pode substituir a solidariedade, que,
por sua vez, deve apenas colmatar desigualdades ou injustiças não evitáveis. Não é contribuindo para o Banco Alimentar que se luta contra a fome ou a pobreza, mas sim lutando contra a riqueza desmedida, as desigualdades e a hegemonia dos privilegiados - ver p.ex. aqui.
No
Reino Unido, onde a austeridade tem vindo a intensificar as situações de
pobreza extrema e de carência alimentar, os bancos alimentares aumentaram a sua
intervenção, situação que tem sido alvo de críticas - ver aqui ou aqui.
Na vizinha Espanha também tem havido críticas aos bancos de
alimentos e às suas ligações às instituições religiosas - ver aqui, aqui ou aqui.
O último artigo citado explicita as razões pelas quais os bancos
alimentares são socialmente indesejáveis e injustos:
- praticam a caridade, que não é compatível com o
cumprimento dos direitos humanos por parte dos Estados;
- alimentam a estratégia de lucro das grandes empresas do
sector alimentar;
- limitam a liberdade de escolha das pessoas desfavorecidas;
- tornam difícil a adopção de dietas equilibradas;
- intensificam a estigmatização e os problemas de exclusão
social;
- inibem a capacidade para a mobilização e a contestação
social.
Em relação aos 3º e 4º pontos da lista, vale a pena destacar
que o tipo de alimentos recolhidos, que está em parte relacionado com as
limitações do BACF e da sua estrutura centralizada, não é compatível com uma
dieta equilibrada. Sobre este tópico é interessante referir um outro projecto
britânico de dimensão local mas com princípios e práticas muito diferentes das
do Trussel Trust (ao qual são aliás dirigidas fortes críticas) - ver aqui.
Em relação ao 5º ponto da lista acima, sugiro a leitura
deste artigo de opinião do sociólogo António Pedro Dores.
Finalmente, Marcelo referiu que o problema de fundo se
resolve com mais crescimento e mais emprego – só não explicou como isso é
possível quando o actual crescimento das economias é conseguido à custa do
aumento das desigualdades sociais e da destruição ambiental, e quando os
empregos estão a desaparecer, a ser mal pagos e sem regalias sociais, como
consequência do modelo económico e financeiro globalizado - ver p.ex. aqui ou aqui.
Pela minha parte, e para não me acusarem de criticar sem
oferecer alternativas, irei continuar a pugnar por uma mudança de paradigma
social e económico que torne os Bancos Alimentares completamente obsoletos e desnecessários.
É por isso que defendo o Decrescimento planeado, um rendimento básico
incondicional e um rendimento máximo sensato e justo - ver p.ex. aqui e aqui.
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