Há quatro anos atrás escrevi um post desencantado nas
vésperas das Legislativas de 2015. Hoje, após um governo de ‘geringonça’ liderado por António
Costa e de uma aparente recuperação económica e social desde os anos de
austeridade da ‘troika’ e do governo Passos Coelho, o meu estado de espírito
não é muito diferente. Mais uma vez nos encontramos na eminência da
continuidade do ‘arco da governação’, baseado nos partidos que se revezam no
poder há décadas (PS e PSD, c/ ou s/ CDS) (ver p.ex. aqui). Pelo menos a julgar pelas sondagens com
que somos continuamente massacrados - que de pouco servem, seja para promover a
participação ou uma verdadeira possibilidade de mudança. É que apesar de haver
quem defenda que a ‘geringonça’ pressionada pelo BE e o PCP tem conseguido
reverter o descalabro social da era troika-Passos, esquece-se que muito do
caminho trilhado na prossecução da agenda neoliberal já vinha do governo
Sócrates e o próprio PS de Costa tem promovido uma agenda pouco ‘progressista’,
com o conluio do PSD – veja-se, por exemplo, as alterações ao Código de
Trabalho aprovadas pelo PS, com os votos contra de BE e PCP e a abstenção do
PSD e CDS, e que configuram um ‘regresso ao passado’ na desregulação e
degradação das condições do trabalho e na manutenção da sua precarização, segundo
opinião do jurista Garcia Pereira.
Depois tivemos, para além das ‘campanhas políticas’ recheadas
das marcas evidentes do ‘marketing’, desde o slogan ‘faz sentido’ do CDS ao
‘faz acontecer’ do BE, e dos habituais comícios, almoços ou jantares-convívio e
arruadas, uma ‘cobertura mediática’ centrada, como é também habitual, nos partidos com
assento na AR – a desproporcionalidade foi tão evidente que o próprio Marcelo se pronunciou. Uma novidade desta campanha, foi a entrada do tema da crise climática nos programas partidários, nos discursos dos seus líderes e nos
debates, a que não terão sido alheias as recentes grandes mobilizações
internacionais. No entanto, as propostas de mudanças profundas no sistema
económico-financeiro e produtivo, que seriam indispensáveis para uma resolução
séria e duradoura da catástrofe ecológica mais abrangente, continuam a ser
empurradas para as calendas. Uma outra novidade foram as assanhadas campanhas
de descredibilização dirigidas ao PAN, em particular por comentadores da
direita política (ver p.ex. aqui), e que já tinham sido iniciadas após os resultados das
Eleições Europeias (ver p.ex. este post ou aqui). Mesmo reconhecendo algumas
incoerências e desequilíbrios no discurso e programa do PAN, aqueles ataques
parecem-me descabidos e apenas justificáveis pelo facto dos partidários daquela facção ideológica (embora também tenha havido reacções de gente da esquerda) se terem apercebido da ameaça que este partido constitui às suas próprias ambições
políticas e de poder.
E depois há a questão do próprio sistema político baseado na
democracia representativa, dominada pelos partidos e por interesses vários, e do sistema eleitoral: verdadeiras 'vacas sagradas’ que poucos se atrevem a querer mudar, por mais que seja
evidente que já não servem os interesses dos cidadãos ou o bem-comum. Também
escrevi sobre isso anteriormente. Continuo a subscrever o que escrevi no último
parágrafo do post de há quatro anos atrás, mas irei desta vez votar num pequeno
partido, embora com pouca convicção de que essa decisão faça alguma diferença.
Na segunda-feira prosseguirá portanto a programação habitual.
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