Primeiro foi o World Economic Forum (WEF) a sugerir que os 'lockdowns' diminuiram o ruido nas cidades (permitindo até detectar sismos que passariam despercebidos) bem como os níveis de poluição e de emissões CO2:
As reacções negativas não se fizeram esperar e o WEF viu-se forçado a retirar o Twit e respectivo video (na notícia do RT falta o início, mas pode ser visto na sua totalidade na notícia da News AKMI, linkada abaixo):
Como seria de esperar, foram invocadas ligações à agenda do 'Great Reset' (GR) e os media de direita aproveitaram para ridicularizar o WEF:
Claro que o discurso do WEF foi, no mínimo, infeliz, e a sua agenda GR deve ser repudiada por promover o tecnofuturismo insustentável, o capitalismo verde e a concentração do poder nas elites económicas (ver p.ex. aqui ou aqui). No entanto, é preciso denunciar também a agenda ideológica das críticas que defendem o regresso da vida económica às cidades sem questionar o modelo económico e de negócio que as alimenta - que é de facto não só ambientalmente insustentável, como socialmente injusto, promovendo o aumento das desigualdades e beneficiando os grandes grupos económicos e financeiros.
Menos de uma semana depois do incidente com o Twit do WEF, foi a vez do Guardian escolher um título igualmente descabido para uma notícia sobre um estudo recente publicado na revista Nature, que defende que os governos devem responder à emergência climática com a mesma determinação com que adoptaram medidas drásticas para enfrentar a pandemia (em particular, os 'lockdowns'):
Os comentários críticos, com acusações de fanatismo climático, levaram o jornal a alterar o título original, que invocava a ideia de 'climate lockdowns'. Mais uma vez, uma opção extremamente infeliz dum título acaba por deitar a perder as oportunidades para alertar simultaneamente para a ameaça existencial da crise climática e ambiental, e para denunciar a inacção ou, pelo menos, a duplicidade dos governos na forma como lidam com crises diferentes (ver também meu post anterior). Desgraçamente, quem ganha com isto são os poderes económicos e financeiros transnacionais, que saem reforçados, e quem perde são os milhões de cidadãos que sofrem as consequências directas ou indirectas, quer da crise pandémica, quer da crise climática e ambiental.
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