quarta-feira, 31 de março de 2021

Um ano de pandemónio

 

“A Covid-19 é mais um passo numa longa tendência de desconexão com a comunidade, com a natureza e com o lugar. A cada passo dessa desconexão, embora possamos sobreviver como seres separados, tornamo-nos cada vez menos vivos.” Charles Eisenstein

“Estamos a fechar-nos não só em relação à doença, mas também em relação a outras facetas do ser humano.” Sunetra Gupta

“(…) uma guerra contra um inimigo invisível que se pode esconder em qualquer outra pessoa é a mais absurda das guerras. É, na verdade, uma guerra civil. O inimigo não está fora, está dentro de nós.” Giorgio Agamben

Fez neste mês de Março um ano que a Organização Mundial de Saúde declarou a Covid-19 como pandemia (a 11 de Março) e que o presidente português decretou o primeiro estado de emergência, concertado com o governo e com o apoio da AR (a 18 de Março), dando lugar a uma sucessão de medidas de mitigação que incluíram vários confinamentos compulsivos de toda a população, como aconteceu em muitos outros países. Sei que existe mais vida para além da Covid (mal de nós!), mas não consigo conformar-me perante a disrupção das nossas vidas infligida pelos poderes e interesses instalados a pretexto da crise sanitária e escrever sobre isto é uma forma de exorcizar a profunda tristeza e enorme revolta que sinto. Mas em vez de tentar expressá-lo pelas minhas próprias palavras ou de tentar fazer um balanço do ano que passou (talvez ainda o venha fazer), decidi compilar algumas imagens (minhas ou respigadas da internet) e alguns excertos de textos (traduzidos por mim, quando necessário) que fui reunindo durante os últimos meses. É possível encontrar os meus ‘posts’ anteriores sobre o tema aqui.

Charles Eisenstein, The Coronation (Abr 2020): Se há algo em que a nossa civilização é competente, é em combater um inimigo. Congratulamo-nos com as oportunidades de fazer aquilo em que somos bons, o que comprova a legitimidade dos nossos sistemas, tecnologias e visão de mundo. E assim, fabricamos inimigos, apresentamos problemas como crime, terrorismo e doenças em termos de “nós versus eles”, e mobilizamos as nossas energias colectivas para as diligências que podem ser vistas dessa maneira. Assim, usamos a Covid19 como um apelo às armas, reorganizando a sociedade como se fosse para um esforço de guerra, enquanto tratamos como normal a possibilidade do apocalipse nuclear ou do colapso ecológico, ou o facto de milhões de crianças morrerem de fome.

Comuna de Arroios, A pandemia e os gestos de caridade (Abr 2020): Numa intuição talvez ainda silenciosa e privada, é já óbvio para todos que a pastoral económica que todos os dias nos é enfiada goela abaixo é um boneco animado a correr no vazio, e que o apelo consensual de que ‘vai tudo ficar bem’ é apenas um auspício sombrio da crise que vem.


Claire Fontaine, Carta contra a separação (Abr 2020): Vivemos numa economia de risco, que criou uma sociedade de risco. O risco está desigualmente distribuído, mas isto parece ser apenas mais uma experiência da vida nas democracias liberais. (…) Porque pela primeira vez os estados-nação decidiram que os seus cidadãos não podem correr riscos. Em nome do Covid-19, as nossas vidas foram-nos retiradas. (…)  É importante, mas não é fácil, evitar ficar deprimido e zangado, porque estamos a pagar o preço da austeridade: não podemos ser curados, não podemos ficar doentes, portanto não podemos viver. “Lá fora, o caixão, cá dentro, a televisão” como coloca brilhantemente Vanegeim, somos ordenados a prosseguir o trabalho remotamente num pesadelo Orwelliano que despreza completamente a situação biológica do confinamento.

Paulo Costa, Mortalidade, confinamento e síndrome de Estocolmo (Jun 2020): A mortalidade tão assimétrica para a COVID-19, cuja interpretação representa um desafio para a comunidade científica, pode residir em grande medida não na agressividade do vírus, mas na assimetria do combate ao mesmo. Pode haver muitas vítimas de “fogo amigo”. Por tão óbvia, esta explicação poderá não ser evidente. Por tão incómoda, poderá não ser reconhecida. (…)  Uma parte apreciável do excesso de mortalidade, em Portugal, não terá ficado a dever-se apenas à pandemia viral e à sua resposta, mas também à “panicodemia” que grassou em paralelo e que terá sido plausivelmente catalisada pela disrupção da normalidade social. O medo tornou-se um factor de risco.

Santana Castilho, Afinal era o postigo (Jan 2021): Governantes sensatos e cultos, independentes de qualquer ideologia militante, não poderiam ignorar que a propósito dos danos da covid-19 se ensaiam engenharias sociais, alavancadas pelos avanços fabulosos da digitalização global, que outro fito não têm senão controlar e domesticar a liberdade individual. Porque não sou negacionista, preocupa-me muito o potencial infeccioso do vírus. Mas porque não sou estúpido, preocupam-me muito mais os efeitos colaterais, destruidores, de muitas das medidas tomadas para o combater.

Bernard-Henri Lévy, The Virus in the Age of Madness (Ago 2020): Uma vida em que se aceita, com entusiasmo ou resignação, a transformação do estado de bem-estar em estado de vigilância, com a saúde a substituir a segurança, uma vida em que se aceita este rumo perigoso: já não o antigo contrato social (onde se cede um pouco da sua vontade individual em prol da vontade colectiva), mas um novo contrato de vida (onde se abdica um pouco, ou muito, das liberdades fundamentais, em troca de uma garantia de antivírus, um “passaporte de imunidade”, um “certificado de risco-zero” ou um novo tipo de salvo-conduto para desencarceramento, que permita a transferência para outra cela). Neste processo, deu-se uma ruptura profunda com o que toda a sabedoria do mundo, notavelmente, mas de forma alguma exclusivamente judaica, se esforçou por dizer: que uma vida não é uma vida se for meramente vida.

William ReesThe Earth Is Telling Us We Must Rethink Our Growth Society (Abr 2020): À medida que a pandemia se desenrola, a maioria das pessoas, liderada por governantes e decisores políticos, percebe a ameaça apenas em termos de saúde humana e o seu impacto na economia. Consistente com a visão dominante, os grandes media convocam quase exclusivamente médicos e epidemiologistas, gestores e economistas para avaliar as consequências do surto viral. (...) Quando recorrerão a ecologistas sistémicos para explicar o que realmente está a acontecer? (...) A discussão principal concentra-se obstinadamente em derrotar a COVID-19, facilitando a recuperação, restaurando o crescimento e, de alguma forma, voltando ao normal. Afinal, como escreveu Gregory Bateson: “Este é o paradigma: tratar o sintoma para tornar o mundo seguro para a patologia”. Reflictam sobre isto: o ‘normal’ é a patologia. 


Michel Rosenzweig, D’une pandemie affolante à une syndemie raisonsable (Jan 2021): Nunca houve uma “pandemia” no sentido que a ciência epidemiológica a entende, mas muito mais uma sindemia, uma reunião de vários fatores agravantes dos efeitos de um vírus que fundamentalmente não é mais perigoso do que outro vírus respiratório do tipo gripal, mas que funciona como um acelerador, um catalisador de efeitos tóxicos em certas categorias de pessoas de risco, por razões multifatoriais que devem ser consideradas seriamente em vez de acreditar na univocidade da solução vacinal e nas supostas virtudes do confinamento repetido.

Santiago Alba Rico, Capitalismo pandémico (Jan 2021): A política e a ciência deveriam lutar para libertar a humanidade e a si mesmas do capitalismo. Isso seria bom para todos. (...) Os vírus passam de animais abusados para humanos abusados numa sinergia potencialmente apocalíptica. (...) Queremos acreditar nos políticos e acontece que a política é sequestrada pelos índices bolsistas, pelos prémios de risco e pelos limites draconianos do déficit público. Queremos acreditar nos cientistas e descobrimos que a ciência é sequestrada por empresas farmacêuticas. O mercado, com efeito, é a sindemia.


Leila Mechoui & Alexander Davidson, The pandemic that changed nothing (Jan 2021): Uma consideração cuidadosa da economia política da COVID-19 revela que os confinamentos não cumpriram, de facto, a promessa de salvar vidas que foi propagandeada. Agora que a utilidade política dos confinamentos diminuiu, ficará cada vez mais claro que essas medidas representaram nada mais do que um teatro político punitivo e uma consolidação adicional do controle capitalista. (…) o confinamento é a dissolução das poucas interacções fora do mercado ainda possíveis sob o capitalismo, transformando a vida numa fusão perfeita de consumo e trabalho. Isto tornar-se-á cada vez mais claro à medida que dados adicionais forem recolhidos, até que a extensão dos danos ao nosso bem-estar físico e mental seja inegável. (…) Acreditar que o vírus sempre foi uma ameaça significativa para os trabalhadores, ou que poderia de alguma forma ser usado contra a burguesia para promover a luta de classes, foi um erro vergonhoso. Os liberais de esquerda, ao apoiar uma resposta à pandemia não testada, não comprovada e historicamente sem precedentes, apenas ajudaram a burguesia a piorar a vida das pessoas pelas quais afirmam falar.

Jeremy R. Hammond, Should you be afraid of airborne transmission of SARS-Cov2? (Dez 2020): (...) a recomendação do CDC para evitar situações em que alguém se encontra a menos de dois metros de outras pessoas por quinze minutos ou mais permanece sensata, assim como a recomendação da OMS de usar uma máscara como cortesia para com os outros em situações onde o contacto próximo é inevitável. A ideia de que devemos simplesmente deixar de viver as nossas vidas ou usar sempre uma máscara onde quer que formos, por outro lado, além de enjeitar a real ameaça duma governança autoritária, também não é sustentada pela totalidade das evidências científicas.


Giorgio Agamben, O tempo que vem (Nov 2020): Se os poderes que governam o mundo sentiram que deviam recorrer a medidas e artifícios extremos como a biossegurança e o terror sanitário, que instigaram por toda a parte e sem reservas, mas que agora ameaçam fugir ao controlo, é porque temeram, segundo toda a evidência, não ter outra escolha para sobreviver. E se as pessoas aceitaram as medidas despóticas e restrições sem precedentes às quais foram submetidas sem qualquer garantia, não é apenas por causa do medo da pandemia, mas provavelmente porque, mais ou menos inconscientemente, sabiam que esse mundo em que viveram até então não podia continuar, era muito injusto e desumano.

Charles Eisenstein, The Coronation (Abr 2020): Quanto da vida queremos sacrificar no altar da segurança? Se isso nos mantiver mais seguros, queremos viver num mundo onde os seres humanos nunca se reúnem? Queremos usar sempre máscaras em público? Queremos ser examinados clinicamente cada vez que viajarmos, se isso salvar um número de vidas por ano? Estamos dispostos a aceitar a medicalização da vida em geral, entregando a soberania final sobre os nossos corpos às autoridades médicas (conforme selecionadas pelas autoridades políticas)? Queremos que todos os eventos sejam virtuais? Quanto estamos dispostos a viver no medo? Queremos continuar a isolar-nos ainda mais uns dos outros e do mundo?

 


Termino com as palavras de Bertolt Brecht* (escritas muito antes desta pandemia, mas num contexto não menos sombrio e inquietante):
 
Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural.
Pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural.
Nada deve parecer impossível de mudar.

* Citação original (versão inglesa):
Let nothing be called natural
In an age of bloody confusion,
Ordered disorder, planned caprice,
And dehumanized humanity, lest all things
Be held unalterable!
(The Exception and the Rule, 1937, Prologue)

quarta-feira, 17 de março de 2021

Mensagens de líderes indígenas em tempos pandémicos


Partilho endereço do 'site' Rooted Messages lançado em Novembro de 2020 que reune os testemunhos preciosos de 16 líderes espirituais de povos indígenas espalhados pelo globo em resposta à pergunta 'O que é que o mundo precisa de ouvir neste momento?' 
Trailer da série aquiNão será difícil de perceber quão distantes são estas mensagens daquelas que preenchem o espaço mediático do nosso quotidiano...

Partilho também um artigo recente (Dez 2020) da revista Yes! que descreve as práticas ancestrais de vida em comunidade e de cuidado mútuo de povos indígenas norte-americanos em tempos de pandemia – ‘This is not our first pandemic’.

Precisamos de ouvir as vozes daqueles que têm conseguido resistir à voragem desenfreada e insustentável das sociedades ditas modernas, que prometem progresso e bem-estar mas oferecem violência e destruição.

quarta-feira, 10 de março de 2021

O poder da narrativa: a história da professora e da Grande Cisão

“Num momento em que a discórdia instalada sobre fontes válidas de factos torna o debate impossível, o que pode reduzir a divisão? Talvez sejam as histórias: tanto histórias de ficção que convocam verdades de outra forma inacessíveis através das barreiras de ‘fact-checking’, quanto histórias pessoais que nos re-humanizem mutuamente.” (At a time when lack of agreement on a valid source of facts makes debate impossible, what can bridge the divide? Maybe here too it is stories: both fictional stories that carry truths that are otherwise inaccessible through barriers of fact control, and personal stories that rehumanize each other to each other.) Charles Eisenstein

Este post é um pretexto para partilhar uma história preciosa com a qual me cruzei há uns anos e que guardava no meu arquivo - senti ter chegado o momento certo para o fazer. “The Apocalypse of the Teacher (The Book of the Great Divide)” é da autoria de um escritor norte-americano obscuro, que escreve sob o pseudónimo J.H. Marten, tratando-se na verdade de uma história dentro de outra história. Escrevi abaixo um preâmbulo de contextualização, mas deixo desde já o acesso à minha tradução do texto para português (aqui) ou a possibilidade de aceder ao original nesta ligação.

Num ensaio recente o autor e pensador norte-americano Charles Eisenstein reflecte sobre a profunda clivagem dentro da sociedade do seu país causada por um entrincheiramento em campos ideológicos opostos e estanques que está a pôr em causa a própria noção de democracia. Trata-se de uma reflexão lúcida e profunda em que o autor expõe a brutal guerra de informação em curso, que está não só a impossibilitar o diálogo construtivo e conciliador em torno de questões relevantes para o bem-estar futuro da sociedade, como está simultaneamente a minar a confiança das pessoas umas nas outras e nas suas instituições. Eisenstein descreve o cenário de censura e de propaganda que tomou de assalto o espaço mediático e de discussão pública, dominado pelos mesmos poderes e interesses instalados das elites económicas e financeiras que controlam também os poderes políticos. O autor defende que as possibilidades de questionamento das narrativas dominantes por via do discurso e debate racionais se tornam cada vez mais difíceis e que para tal há que recorrer a estratégias alternativas que possam conduzir ao apaziguamento das divisões e à recuperação da confiança mútua. E é nesse contexto que sugere o recurso ao poder das histórias e à sua capacidade de invocar arquétipos e de convocar as dimensões emocionais e éticas do subconsciente colectivo.

Num outro ensaio de 2020, o autor britânico Dougald Hyne reflecte sobre duas visões de mundo antagónicas que informam atitudes igualmente irreconciliáveis (aparentemente) perante a ameaça existencial da crise ambiental global. Hyne remete a divisão instalada nas sociedades modernas entre os defensores da ciência e do progresso e os que invocam crenças e virtudes de um passado idealizado, para uma cisão mais antiga e profunda que pretende separar razão e emoção, cabeça e coração. O autor defende que a alienação e o ressentimento em relação à ciência dos segundos se deve em boa parte aos primeiros que agruparam a prática da ciência, a faculdade da razão e a promessa da tecnologia num sistema de crenças. A sua grande história de progresso há muito deixou de dar sentido à experiência de vida de muitas pessoas e a visão de mundo baseada numa fé tecnocientífica, que configura uma dissociação da experiência física e emocional, contribuiu para as condições em que a negação poderia prosperar. Segundo Hyne, a esperança numa época assombrada por visões de uma ‘Terra inabitável’, não está nem no triunfo da razão, nem na recuperação de um passado imaginado, mas sim no difícil trabalho de aprender a sentir e pensar juntos novamente.

Segundo nos diz a professora que conta a história dentro da história da ‘fábula moderna’ de J.H. Marten, ela é “simultaneamente sobre ciência e religião, sobre possibilidades e limites” e que “não será feliz nem triste; será sobre alegria e tristeza. E não haverá heróis, porque será uma história honesta, e uma história honesta só pode ser sobre humildade.” Creio que o legado de J.H. Marten vai de encontro, quer ao desafio de Hyne, quer ao desejo de Eisenstein de encontrar novas formas de reconciliação e re-humanização das nossas sociedades divididas e disfuncionais através do poder da narrativa: “Com a determinação de buscar histórias sobre aqueles que estão fora do nosso recanto familiar da realidade, poderemos realizar o potencial da Internet para restaurar o conhecimento partilhado. Teremos então os ingredientes para um renascimento democrático.”(With the willingness to seek stories of those outside one’s familiar corner of reality, we may fulfill the potential of the internet to restore the knowledge commons. Then we will have the ingredients of a democratic renaissance.)

quinta-feira, 4 de março de 2021

Confinamentos e alterações climáticas: trapalhadas mediáticas

Primeiro foi o World Economic Forum (WEF) a sugerir que os 'lockdowns' diminuiram o ruido nas cidades (permitindo até detectar sismos que passariam despercebidos) bem como os níveis de poluição e de emissões CO2:
As reacções negativas não se fizeram esperar e o WEF viu-se forçado a retirar o Twit e respectivo video (na notícia do RT falta o início, mas pode ser visto na sua totalidade na notícia da News AKMI, linkada abaixo): 
Como seria de esperar, foram invocadas ligações à agenda do 'Great Reset' (GR) e os media de direita aproveitaram para ridicularizar o WEF:
Claro que o discurso do WEF foi, no mínimo, infeliz, e a sua agenda GR deve ser repudiada por promover o tecnofuturismo insustentável, o capitalismo verde e a concentração do poder nas elites económicas (ver p.ex. aqui ou aqui). No entanto, é preciso denunciar também a agenda ideológica das críticas que defendem o regresso da vida económica às cidades sem questionar o modelo económico e de negócio que as alimenta - que é de facto não só ambientalmente insustentável, como socialmente injusto, promovendo o aumento das desigualdades e beneficiando os grandes grupos económicos e financeiros.
Menos de uma semana depois do incidente com o Twit do WEF, foi a vez do Guardian escolher um título igualmente descabido para uma notícia sobre um estudo recente publicado na revista Nature, que defende que os governos devem responder à emergência climática com a mesma determinação com que adoptaram medidas drásticas para enfrentar a pandemia (em particular, os 'lockdowns'):
Os comentários críticos, com acusações de fanatismo climático, levaram o jornal a alterar o título original, que invocava a ideia de 'climate lockdowns'. Mais uma vez, uma opção extremamente infeliz dum título acaba por deitar a perder as oportunidades para alertar simultaneamente para a ameaça existencial da crise climática e ambiental, e para denunciar a inacção ou, pelo menos, a duplicidade dos governos na forma como lidam com crises diferentes (ver também meu post anterior). Desgraçamente, quem ganha com isto são os poderes económicos e financeiros transnacionais, que saem reforçados, e quem perde são os milhões de cidadãos que sofrem as consequências directas ou indirectas, quer da crise pandémica, quer da crise climática e ambiental.