Os tempos que atravessamos, adversos e inquietantes a vários níveis (social, ambiental, psicológico, emocional), já o eram antes da entrada em cena da Covid. No entanto, a pandemia veio exacerbar certos processos e revelar outros que tornaram mais evidentes as disfuncionalidades das sociedades em que vivemos (ver p.ex. um post anterior), nomeadamente as formas de governação cada vez mais autoritárias e menos democráticas, e a influência nefasta dos media na decisão política e na manipulação da opinião pública. No que respeita à crise pandémica, sinto que é cada vez mais necessário e urgente denunciar (e resistir) não só a campanha de medo mediática que dura há mais de um ano (ver p.ex. aqui ou aqui), como também a verdadeira pandemia autoritária em curso (ver p.ex. aqui), apelidada por alguns de terror sanitário (ver p.ex. aqui). Não deveríamos tolerar a propaganda permanente que é despejada pelos media (e amplificada pelas redes sociais), sob a aparência de informação.
Sobre este tema, recomendo o visionamento do recente documentário ‘Ceci n’est pas um complot’ do realizador belga Bernard Crutzen que, sem recorrer a teorias rebuscadas ou a argumentos ideológicos, faz um historial da evolução das narrativas mediáticas na Bélgica, com evidentes paralelismos com o que se passou noutros países: ver aqui ou aqui (versão original em francês; é possível selecionar legendas em inglês ou tradução automática em português).
O programa em poucos séculos (Le programme en quelques siècles; ‘Les Poèmes Indésirables’, 1945)
Vai suprimir-se a Fé
Em nome da Luz,
Depois suprime-se a luz.
Vai suprimir-se a Alma
Em nome da Razão,
Depois suprime-se a razão.
Vai suprimir-se a Caridade
Em nome da Justiça,
Depois suprime-se a justiça.
Vai suprimir-se o Amor
Em nome da Fraternidade,
Depois suprime-se a fraternidade.
Vai suprimir-se o Espírito de Verdade
Em nome do Espírito Crítico,
Depois suprime-se o espírito crítico.
Vai suprimir-se o Sentido da Palavra
Em nome do sentido das palavras,
Depois suprime-se o sentido das palavras.
Vai suprimir-se o Sublime
Em nome da Arte,
Depois suprime-se a arte.
Vão suprimir-se os Escritos
Em nome dos comentários,
Depois suprimem-se os comentários.
Vai suprimir-se o Santo
Em nome do Génio,
Depois suprime-se o génio.
Vai suprimir-se o Profeta
Em nome do poeta,
Depois suprime-se o poeta.
Vão suprimir-se os Homens do Fogo
Em nome dos Esclarecidos,
Depois suprimem-se os esclarecidos.
Vai suprimir-se o Espírito
Em nome da Matéria,
Depois suprime-se a matéria.
EM NOME DE NADA IRÁ SUPRIMIR-SE O HOMEM;
SUPRIME-SE O NOME DO HOMEM;
DEIXARÁ DE HAVER NOME;
JÁ CÁ ESTAMOS.
O segundo poema parece ter sido inspirado no de Robin e foi publicado em Novembro de 2020 pelo filósofo italiano Giorgio Agamben, uma das vozes que tem colocado em causa, desde o início da pandemia, as narrativas oficiais e mediáticas (ver aqui):
Foi abolido o amor
em nome da saúde
depois será abolida a saúde.
Foi abolida a liberdade
em nome da medicina
depois será abolida a medicina.
Foi abolido Deus
em nome da razão
depois será abolida a razão.
Foi abolido o homem
em nome da vida
depois será abolida a vida.
Foi abolida a verdade
em nome da informação
mas não será abolida a informação.
Foi abolida a constituição
em nome da emergência
mas não será abolida a emergência.
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