As
imagens acima são de uma campanha publicitária da farmacêutica Pfizer (daí o TM
associado ao lema) do ano 2020, durante o qual esteve a desenvolver a sua
vacina para a Covid-19, e que vinha acompanhada de vídeos a condizer: ver aqui ou aqui.
Quem
me conhece sabe que sou um entusiasta da(s) ciência(s) como forma valiosa de
conhecimento e de deslumbramento sobre o mundo. No entanto, considero que os
conhecimentos alcançados pela ciência não são suficientes para garantir o
bem-estar e sustentabilidade das sociedades, e devem ser complementados pelos
saberes das outras áreas do conhecimento (artes, humanidades, etc.), assim como
pelos saberes vernáculos e pelo senso comum (escrevi sobre isso aqui).
O que não me parece definitivamente aceitável é que uma corporação multinacional
se apodere do conhecimento científico como sua propriedade, elevando-o ao
estatuto de quase-religião. Esta distorção e apropriação da ciência como saber
supremo é aliás apanágio dos fundamentalistas do chamado cientismo (ver p.ex. aqui) e tem servido para
validar as mais diversas decisões políticas por parte de governantes. É ainda a
mesma Pfizer que usa novamente "a ciência" para promover um outro slogan
publicitário, ainda mais demagógico: Muitos
cientistas tornaram-se mais cautelosos nas últimas décadas e evitam este tipo
de afirmações injustificadas e arrogantes, mas que têm sido igualmente usadas
por filantropos menos escrupulosos (que denunciei num post anterior). Estes abusos do marketing agressivo da farmacêutica são agravados
pelas notícias sobre os seus ganhos financeiros imediatos ou futuros, incluindo
dos seus próprios executivos – ver aqui,
aqui
e aqui
– e que levaram mesmo um jornalista da CNN a interrogar-se: “You thought he [CEO
da Pfizer] was in it for saving lives, perhaps?”. Claro que estas alegações são
extensíveis às restantes farmacêuticas, que não só receberam milhões de fundos públicos
(ver p.ex. aqui) ou
incentivos especiais (p.ex. a Operação ‘Warp Speed’
nos EUA) para o desenvolvimento das vacinas, como ainda exigiram protecção legal
dos governos em caso de problemas de segurança (ver p.ex. aqui
ou aqui).
Como é dito no vídeo publicitário da Pfizer, embora sem ironia dissimulada: “When
science wins, we all win.”
Notas:
1.
Húbris: palavra grega cujo significado original pode ser traduzido como
"tudo o que passa da medida; descomedimento" e que actualmente alude
a uma confiança excessiva, um orgulho exagerado, presunção, arrogância ou prepotência.
2.
Para evitar ser acusado de ‘anti-vaxxer’, faço notar que não ponho em causa a
utilidade das vacinas para mitigar uma epidemia viral (a varíola é o exemplo
mais óbvio). No entanto, a forma apressada como estas vacinas foram autorizadas
e validadas para uso massivo, as disputas e negociatas entre as farmacêuticas e
com os estados, e as dúvidas e reservas colocadas por vários cientistas, não me
deixam nada tranquilo nem convencido da sua eficácia, ainda para mais num clima
de histerismo colectivo e de propaganda mediática que já não era propício à
tomada de decisões sensatas e equilibradas.
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