domingo, 6 de julho de 2025

Pseudoceno – Adenda com referências adicionais

Nota: este post é uma adenda ao post anterior.

Julian Assange, numa declaração em 2011 que citei no meu post de Março de 2024, afirmou que “os jornalistas são criminosos de guerra”. Esta afirmação pode parecer desnecessariamente categórica, simplista e até injusta, e terá muito possivelmente sido um dos motivos que levou muitos media ocidentais a criticá-lo ou até a abandoná-lo desde então. Mas Assange estava a falar numa acção de protesto contra a fabricação de ‘guerras justas’ pelo Ocidente, em particular as guerras no Afeganistão e Iraque, e usou aquela afirmação como resposta a uma pergunta que ele próprio colocou sobre a cumplicidade dos media: “Quando compreendemos que as guerras surgem como resultado de mentiras espalhadas ao público britânico, ao público americano e ao público de toda a Europa e de outros países, então quem são os criminosos de guerra?

Em relação ao meu post mais recente, quero clarificar dois aspectos. Em primeiro lugar, critiquei os media dominantes ocidentais, mas nada disse sobre o que publicaram os media no Irão ou noutros países que puseram em causa a narrativa do Ocidente. A minha escolha foi premeditada e não se destina a branquear a manipulação e demagogia que também é feita em alguns desses media. É sabido que muitos são controlados ou censurados pelos governos autocráticos desses países e não é de espantar que distorçam a narrativa de modo a satisfazer a agenda dominante. Escolhi focar-me nos media dominantes ocidentais, porque nesta parte do mundo e cultura em que me insiro se apregoa que existe liberdade de informação e que os media são isentos e transmitem a verdade dos factos. Ora acontece que isso simplesmente não corresponde à realidade. Pior ainda, o conteúdo e a forma como as notícias são dadas pretendem legitimar uma agenda belicista ou um dos lados beligerantes, suprimindo ou distorcendo os factos, ou apresentando uma versão enviesada desses factos.

Em segundo lugar e para além das referências que já tinha inserido no post sobre o Pseudoceno, acrescento agora mais alguns links para vídeos e artigos que lançam críticas fundamentadas aos media ocidentais dominantes pelo viés favorável a Israel na sua cobertura, não só do conflito mais recente entre Israel e o Irão, mas também do massacre dos palestinianos em Gaza e na Cisjordânia, desde 2023 (ver p.ex. aqui). O primeiro vídeo da Aljazeera, com depoimentos da historiadora iraniano-americana Assal Rad, especialista no Médio Oriente, foca-se no conteúdo de títulos e resumos das notícias, que são muitas vezes da responsabilidade das redacções editoriais e não necessariamente dos jornalistas que escrevem os artigos – ver aqui. Rad tem vindo a fazer o exercício de corrigir os títulos de modo a reflectir a realidade que alegam descrever - ver aqui. Num artigo de opinião recente, o académico de ciência política Ali Abootalebi critica e desconstrói os mitos veiculados por media internacionais como a BBC e a Reuters sobre o Irão. Já o editor do site Countercurrents, Binu Matthew, alerta para o desvio de atenção dos media ocidentais em relação aos continuados massacres em Gaza perpetrados por Israel, causado pelo conflito entre Israel e o Irão - aqui.

Os restantes vídeos referem-se a análises das decisões editoriais recentes da BBC sobre artigos ou reportagens publicados no seu site relativos ao que se passa em Gaza deste 2023, cujo conteúdo foi distorcido a favor de Israel, ou sobre a supressão de narrativas desfavoráveis:

- comentário e discussão sobre relatório do Center for Media Monitoring (BBC On Gaza-Israel: One Story, Double Standards) que revela a dimensão do viés favorável a Israel na cobertura noticiosa da BBC do conflito em Gaza (Owen Jones): https://youtu.be/052e22XabME  

- comentário à decisão da BBC de não exibir o documentário “Gaza: medics under fire”* que havia sido encomendado pela própria BBC sobre o trabalho das equipas médicas em Gaza e que lhe valeram acusações de ‘censura política’ (Novara Media): https://youtu.be/2PWDEykH944

- comentário sobre conteúdo do site da BBC que suprime informação disponível sobre o arsenal nuclear de Israel (Novara Media): https://youtu.be/JxEAsd_fR-I - ver também aqui.

Em relação às sucessivas incorreções e distorções por parte da BBC, foi divulgada uma carta aberta subscrita por mais de 300 personalidades mediáticas britânicas, incluindo mais de 100 jornalistas da própria BBC, a denunciar a situação e a acusar a BBC de forçar os seus jornalistas a fazer propaganda pró-Israel - ver aqui ou aqui. A propósito do conteúdo desta carta aberta, recomendo ainda artigo de opinião escrito pela ex-jornalista da BBC, Karishma Patel.


* O documentário está agora disponível sob o nome “Gaza:doctors under attack” através dos sites do Channel 4 ou da Zeteo (requerem subscrição).

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