sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Catástrofe climática em curso - nem resignação, nem salvação!

“Each day brings a new pledge that looks like progress. But none are legally binding, few have stood up to scrutiny, and many offer so much wiggle room as to be meaningless.” Newsletter de Novembro do movimento Extinction Rebellion

Decorre até dia 12 Nov em Glasgow mais uma cimeira das Nações Unidas dedicada à crise climática (COP26, sarcasticamente apelidada de FLOP26), adiada para este ano devido à pandemia (ver p.ex. aqui ou aqui). Tendo em conta o insucesso das 25 cimeiras anteriores na mitigação daquele que é frequentemente considerado como o desafio existencial mais premente que a humanidade enfrenta, os prognósticos de analistas, jornalistas e ambientalistas para esta não foram animadores (p.ex. aqui ou aqui), apesar dos apelos dramáticos ou sensacionalistas de figuras políticas (ver p.ex. aqui ou aqui). Desde a aprovação do ‘Acordo de Paris’ em 2015, os governos dos diferentes países tentam, sem êxito, negociar as estratégias concertadas e os meios necessários para cumprir as metas de redução de emissões (ver p.ex. aqui). No entanto, como continuam a tentar fazê-lo sem mudar o paradigma económico global e sem integrar as outras dimensões interligadas da crise ecológica - a extinção de biodiversidade, a destruição de ecossistemas, a sobre-exploração de recursos, a desflorestação, a degradação e empobrecimento de solos agrícolas, etc. -, é natural que as emissões tenham continuado a aumentar, apesar de uma ligeira redução durante o ano 2020 devido às medidas de mitigação da pandemia da Covid-19 (ver p.ex. aqui). A queda momentânea das emissões durante esse ano foi aliás uma consequência das quebras na actividade económica em vários países, o que demonstra a forte correlação existente entre o volume de emissões e o tipo de actividade económica dependente do comércio internacional e da movimentação permanente de pessoas e bens (ver p.ex. aqui).
Apesar dos sucessivos relatórios e avisos de cientistas mundiais (p.ex. aqui ou aqui) ou dos protestos dos jovens e de muitos outros cidadãos (ver p.ex. aqui ou aqui), os decisores políticos - subservientes aos interesses económicos instalados - não tiveram a intenção ou a ousadia de tomar as medidas radicais e incómodas que seriam necessárias (ver p.ex. aqui ou aqui). Não admira pois que os níveis de frustração e desânimo, expressos por exemplo no tão falado fenómeno da eco-ansiedade, tenham vindo a aumentar, em particular entre as camadas mais jovens da população (ver p.ex. aqui ou aqui).
Como alegadas alternativas ao modelo dominante têm surgido propostas baseadas em estratégias radicais de conservação da natureza, mas que são acusadas de elitismo por beneficiarem os interesses instalados e desprezarem os direitos dos povos indígenas (ver p.ex. aqui). Por outro lado, temos as narrativas tecno-optimistas que propõem soluções essencialmente tecnológicas para a crise climática. Transição energética, tecnologias ‘limpas’, economia ‘verde’, ‘pactos verdes’ – são meras ilusões ou aparências de mudança pois não põem em causa a essência do sistema (em particular, o crescimento permanente, a acumulação, o extractivismo, o produtivismo ou o consumismo), nem a visão de mundo dominante (que privilegia a separação, o egoísmo, a competição, a dominação, o materialismo, o mecanicismo). Acresce que essa visão de mundo, assim como os modos de vida consumistas dos cidadãos privilegiados, principalmente do norte global, foram estimulados por décadas de propaganda pelo marketing, pelos media e pelos poderes económico e político, claramente os grandes beneficiários do ‘business as usual’. Parte desta argumentação é comum a uma tomada de posição recente da Rede para o Decrescimento – ver aqui.
Proponho duas leituras adicionais que discorrem sobre as dimensões emocionais e psicológicas das nossas atitudes perante a crise climática e ecológica (escrevi anteriormente sobre este assunto aqui). A primeira é um texto de Samuel Alexander que se interroga sobre as noções de normalidade e de sanidade numa sociedade ecocida que parece ter perdido a consciência da sua própria insanidade. Seguem alguns excertos:
If profits and economic growth are the benchmarks of success in a society, it simply may not be profitable to expose a society as insane, and even members of an insane society may sooner choose wilful blindness than look too deeply into the subconscious of their own culture.
The world we live in should not be treated as normal, and it should not be a sign of good health to become “well adjusted” to a society that is casually practising ecocide, celebrating narcissism, institutionalising racism and assessing the value of all things according to the cold logic of profit maximisation.
We must not assume behaviour that makes an individual “functional” within a sick society is sufficient evidence of their sanity. In such a society, it is okay not to feel okay, to cry and feel grief, to feel dread and alienation. In our tears, let us find solidarity, for we are not alone.
A outra leitura que recomendo é de um artigo de Deanna K. Kreisel onde a autora se interroga sobre as razões que levam algumas pessoas a adoptar estados de espírito que ela apelida de ‘fugitive melancholy’ e ‘soft negation’ como contraponto ao ‘hard denial’ dos tecno-utopistas que se refugiam nas soluções tecnológicas salvíficas. Ficam alguns excertos:
The melancholy we feel at the prospect of our own deaths is indeed a species of envy, at least of the near future: of those who will witness the outcome of current events. As we grow older we fall prey to a frustrated desire for narrative closure, knowing that we will not get to see how everything turns out. Fugitive melancholy might help us understand our mass resistance to meaningful action on climate change. Unconscious resentment at the thought of our own deaths leads to an inability to fully imagine—or care for—the world after we are gone.
Technology advocates like Elon Musk and Bill Gates, who stake our future on “green” energy and geo-engineering, seem like pie-eyed idealists chasing after a gossamer dream—and that dream is that everything essentially stay just as it is. Those who are resigned, mourning, circumspect in their expectations are the ones who advocate a radical change in how we orient ourselves both to our attenuated future and to our planetary home.
As a middle-class, middle-aged, medium-optimistic person, I personally feel like I’m caught on a sandbar between the two tides, one rushing in and one ebbing away: the Boomers who are giving up because they’ve already sucked the marrow from the planet and are tossing away the bone, the Gen Zers and younger filled with energy and rage.

1 comentário:

  1. You'd beter start swimming or you'll drawn like a stone cause the times they are a'changing (Dylan)

    ResponderEliminar